Quando nos conhecemos tínhamos 18/19 anos e estudávamos na mesma cidade, estávamos os dois longe da família. Sempre fomos muito conscientes sobre o quão uma criança podia mudar as nossas vidas. Tínhamos estabelecido as nossas prioridades que passavam por estudar, trabalhar e perceber o rumo a seguir a partir daí.
Entrámos nos 30 e começamos a estar mais atentos aos nossos amigos e às suas histórias de tratamentos e dificuldades. Ninguém fala muito, mas é muito mais frequente do que as pessoas imaginam, simplesmente se escolhe passar pelo processo em silêncio, o processo é, por si só, devastador para partilhar, mas também parece que quem passa por isso é a excepção, o que não creio realmente que seja.
Um casal próximo anda neste processo à três anos e os tratamentos, o dinheiro gasto, a quantidade de medicação que ela toma torna o processo cruel e até obsceno. Outro casal próximo separarou-se porque ele tinha 0% de probabilidade de ser pai, ela tinha imensa expectativa e as coisas complicaram-se. Outros já avançaram para adoção e outros conseguiram na primeira fase de tratamentos na clínica.
Demos por nós a pensar sobre se conseguiríamos e decidimos algo que eu não sei se mudaremos de opinião, mas decidimos que se não conseguíssemos não avançaríamos para os tratamentos.
Quando percebi que podia estar grávida fiz um teste e no teste tinha que aparecer dois traços para significar gravidez. Ora apareceu 1 traço forte, o do controlo, e mais um traço fraco e eu achei que por ser fraco não contava (?). Não sei explicar mas achei que era negativo e meio que fiquei desapontada, pela expectativa que ambos já tínhamos criado em relação a esta situação.
Fiz um segundo teste e foi inequívoco. Os nossos amigos que estão em tratamentos há 3 anos, no mesmo dia, disseram-nos que deram finalmente positivo. Estamos grávidas das mesmas semanas. Ainda estou à espera de consulta, mas ela como é seguida na clínica já fez a primeira eco. O resultado não é favorável e a continuar assim vão ter que interromper na próxima semana.
Acho a gravidez algo muito frágil, os abortos são frequentes, os testes, as ecografias, tudo está orquestrado e tudo pode mudar rapidamente de um momento para o outro.
Ainda não contamos à família porque a pressão depois de contarmos existe, porque não queremos lidar com perguntas recorrentes, com termos que partilhar algo menos bom. O que por um lado nos protege e por outro nos isola. Tem vantagens e desvantagens.
Eu gostava de contar numa fase em que o passa fazer de forma feliz e leve, que é algo que ainda não consigo fazer porque ainda há muita incerteza, ainda é uma fase muito inicial e também tenho pena que os nossos amigos não estejam a viver o mesmo.
Estamos a viver isto um passo de cada vez, não sei se já caiu a ficha, sei que já sinto o meu estômago virado ao contrário 24h/7d e há cheiros que eu simplesmente não suporto. Já comi sushi e bebi sangria quando ainda não sabia. Já percebi que a minha situação profissional não vai estar estável, definida e orientada como eu gostava que estivesse, sei que o nosso empréstimo vai subir em julho, a inflação é assustadora e é cada choque de realidade quando vamos ao supermercado... mas nunca estarão todos os astros alinhados, certo? Temos simplesmente que dar o salto, esperando pelo melhor.
Vai correr bem, no fundo eu sinto que vai correr bem.
Vai correr bem, pensamento positivo. Eu tb não quis contar numa primeira fase (tive que contar aos meus pais pq precisava da máquina de tirar a tensão q eles têm e tive de contar o motivo e contei a um colega de trabalho direto pq o meu trabalho não é de todo compatível com uma gravidez, muito menos numa fase inicial), não contei a mais ng. Depois da 1a eco é q começamos a contar (encontrei logo um primo a saída da sala de eco q ficou logo a saber ali 😅). Em termos de enjoos não tive vida facilitada (vomitei 9m), tudo o resto fiz vida completamente normal até entrar no hospital para indução. Ainda fui duas vezes as urgências, uma por reação a vacina COVID e outra por falso alarme e nesse dia (24 de dezembro) disse ao meu namorado, vamos mas não dizemos a ng, não quero mensagens nem pressões se tiver mesmo em trabalho de parto. Foi o melhor que fiz. Só não consegui "esconder" a indução pq o meu irmão veio de propósito para estar comigo, apesar disso não houveram msgs nem telefonemas a pressionar.
ResponderEliminarFaçam o que o vosso coração disser e irá tudo correr bem.
Parabéns!!
ResponderEliminarMuitos parabéns, que tudo se concretize da melhor forma. Uma criança é sempre bem-vinda, faz as nossas alegrias, é o melhor do mundo!
ResponderEliminarMesmo com enjoos, vai sentir uma grande felicidade!
E sim, para alcançar essa felicidade, há mulheres e casais que sofrem muito... Muitíssimo, tanto fisicamente como psicologicamente!
Desejo vos sinceramente que tudo corra pelo melhor...
Maria
Que aventura :)
ResponderEliminarObrigada Maria 😘
ResponderEliminarÉ verdade flores 🙂
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