quarta-feira, 18 de maio de 2022

Sentar. Reavaliar. Redefinir.


Durante toda a vida é-nos incutida a facilidade que é engravidar. Do género: cuidado! há um descuido, sai uma criança. Na minha aldeia, algures no distrito do Porto, mas longe de tudo, este cenário era recorrente: Os maridos trabalhavam fora, na construção civil, e as mulheres eram donas de casa. Uma gravidez nestas circunstâncias era o perpetuar de um legado de dificuldades. Not fun. 

Nunca pensei sobre o facto de constituir família, o que eu sempre tive presente foi estudar, começar a trabalhar e organizar-me a partir daí. Distanciar-me de algo que podia comprometer a minha capacidade de fazer escolhas e não ficar subjugada a uma situação daquelas que eu via nos vizinhos do lado. Algumas das crianças com quem eu andei na primária são hoje mães de adolescentes com 15 anos.

Nesta fase, com 31 anos, começa a ser normal nos depararmos com as experiências dos nossos amigos e na percepção de que poderá não ser fácil, que muitos deles estão inclusive em processo de tratamentos de fertilidade. Só em amigos próximos são 4 casais, pelo menos. Não é algo de que se fale muito e deixa-nos a pensar.

Acho que só percebemos que queremos algo quando alguém nos diz: "lamento, mas não é possível". Tenho medo de ter passado grande parte da vida com este medo de engravidar e um dia alguém nos diga isto mesmo, bem sabemos como a vida é bem irónica most of the time

Só há uma certeza... é que não vale a pena sofrer por antecipação, quando for, que seja o que tiver que ser.

terça-feira, 17 de maio de 2022

"Tenho uma amiga"



Tenho uma amiga que encomendou roupa e que foi buscar uma tesoura para abrir a embalagem. 

Ao cortar a embalagem cortou também o macacão que vinha lá dentro. 🙄


Não fui eu... Puff, eu algum dia fazia uma patetice dessas? Puff... eu sabia logo o que era a embalagem e o que era a roupa, por favor, nem ia continuar a insistir e cortar um buraco do tamanho de uma bola de ténis..  

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Estou a ver as férias no horizonte



Samba, lá lá lá lalalalala lá lá lá laa laa.

Espero que o covid se mantenha longe para podermos ir uns dias para fora, tranquilos.

Já tinha aqui dito que queria mesmo era ir para Budapeste, Praga, Viena, aquela zona ali do mapa, que parece ser incrível e cheia de história. Contudo, agora é infelizmente impensável. Então vamos para perto, apenas tentar descontrair de uma série de coisas que foram e estão a acontecer. Também não se avizinham mais férias este ano, eventualmente todos os dias que sobrem será para obras e limpezas.

Estamos com o processo da casa a decorrer no banco, a avaliação bancária está a demorar mais do que o esperado, espero que não signifique nada.

Como temos a chave temos ido para a casa tentar arranjar algumas coisas e vou-vos contar... é preciso limparmos, seja o que for, 3 vezes para passar de imundo (nem é a limpo) é a, pelo menos, só sujo. Quem vivia naquela casa fez coisas inacreditáveis. Passamos horas só num pequeno jardim à frente da casa que era literalmente uma lixeira a céu aberto, eram dezenas de garrafas, plástico, rolhas, tudo o que possam imaginar.

Estamos na fase em que é difícil de imaginar como as coisas vão ficar, mas espero que aos poucos a coisa avance. Se pudéssemos íamos literalmente para lá arrancar tijoleira, chão, partir paredes.

Temos que decidir qual o orçamento que vamos escolher, o que é prioritário e o que pode ficar para depois. Acho que vamos gastar umas férias das Maldivas só em chão, por exemplo.

Eu, há umas semanas, fui a tribunal depor como testemunha, num processo que acaba por me implicar diretamente, caso não corra bem. Estou também a fazer uma formação todas as semanas na universidade do porto.

O marido vai mudar de empresa.


Muita coisa a acontecer, mas enquanto estivermos vivos vamos dando graças a isso e a estes "problemas", que enquanto forem deste tipo, no final das contas, está tudo bem.



terça-feira, 10 de maio de 2022

[...]



Acho que nunca teremos ideia do que passa e do que sente uma pessoa trans. O desafio de ser-se olhado de lado sempre, do choque dos outros em pequenas escolhas, como a simples e básica ida à casa de banho.


Acabei de atender uma pessoa trans, um adolescente de 17 anos. Foi a segunda consulta, na primeira não querendo ser invasiva usei a informação de género para a ficha clínica e fiz por no discurso nunca definir o género, de modo a que fosse menos uma pessoa a quem se tivesse que justificar. Justificar por existir da forma que existe, por viver a vida que determinaram que teria que viver, mesmo se sentindo diferente.


Hoje abriu-se muito mais, falou concretamente dos desafios que esta condição trazia à sua vida, das dificuldades e pela saúde não ser a prioridade. Falou-me, sem aprofundar, que passava por coisas que são "chocantes" para outras pessoas, que tem problemas na escola, que vai reprovar de ano, mostrou-me fotos de desenhos de um homem a apertar o pescoço a uma mulher, falou-me de violência doméstica, de uso de drogas, na obesidade que decorre de um escape, que é a alimentação.


Falamos muito e com calma, definindo objetivos, materializando um plano de ação. Baby steps - dizia ele, baby steps. Saiu da consulta motivado e a dizer que eu deveria ser psicóloga. Há pessoas que só precisam de ser ouvidas, em saúde vemos muito isso. Ouvir aquela pessoa, compreende-la é muito mais eficaz clinicamente do que qualquer medicamento ou ação terapêutica.

É importante sermos empáticos e educarmos os nossos filhos para a diferença. Caso não tenhamos reparado somos todos assimétricos, nós próprios, como que raio podemos ser iguais a outra pessoa, menos ainda sermos todos iguais, pensarmos da mesma forma. Oiço o que fala, mas não imagino o que vive, não imagino o terror que sente, as lutas que trava. É fácil, de fora, motivarmos, darmos força e sermos positivos, mas sei que tudo se esfuma em pouco tempo.

Espero ter ajudado a mover um grão que seja numa praia solitária, que pode ser esta vida, com a convicção de que as escolas, a sociedade, deveriam ter um papel muito mais ativo na inclusão de todos. Todos nós podemos fazer a nossa parte.


 

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