terça-feira, 21 de dezembro de 2010

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Ás vezes recordo, com saudade, os doces e sadios anos em que trabalhei como empregada de mesa. Ahhh. Os copos que se partiam. Os velhos que se babavam e que me convidavam para dançar. Os tipos altos de olhos verdes, castanhos e, por vezes, azuis, que solicitavam sempre os meus serviços com a finalidade de saberem o meu número de telemóvel. Adorava quando me pediam indicações para regressarem a casa.. "Menina se eu for por aquela estrada, da primeira saída da rotunda, acha que vou ter à auto-estrada que vai dar a Rio Tinto?" ao que eu respondia "Sim, claro." Não sabendo minimamente se estava a mandar os senhores para Matosinhos, ou para Cuba, no Alentejo. (Se há pessoas que foram enganadas por mim, a ler este blog, podem atirar pedras, mas devagarinho, sim?)
O que eu não gostava de ver um casal de noivos e pensar: "Humm.. Ele deve ser milionário" ou "Que vestido de noiva tão lindo, só que ainda estamos em Agosto, será que ele se conserva tanto tempo até ao Carnaval?" ou "Minha cara, você têm que admitir que já tem mais de 40 anos e não é porque se vestir como se tivesse 16 que isso vai mudar". Adorava quando estava a receber e orientar as pessoas e me perguntavam do nada se eu era comprometida ou casada, quando possivelmente ainda mal tinha passado o limite mínimo legal para poder trabalhar. Era lindo.
O acesso ilimitado a croquetes e chamuças. Ahhhh. As milhares de vezes em que tinha que explicar " Sabe que eu trabalho aqui, sou empregada, não posso dançar com o senhor.."
Ah, a saudade do cabelo a cheirar a Gambas salteadas, ou a rolinhos de salsicha. Ou de mega jantares só de mulheres, que vinham de sítios inimagináveis do pais só para jantar longe dos seus cônjuges. Jantares absolutamente normais tirando o facto que havia mais réplicas de órgãos sexuais masculinos, de borracha, do que talheres. Tudo mais de 40, mães de família, aquelas empregadas mal encaradas das Finanças e executivas que nos tratam do IRS, que ostentavam orgulhosamente os seus brinquedos, brincando como se fossem umas prevaricadoras altamente marotas e rebeldes. Aiiih, enfim, bons tempos.
É verdade que estoirei a fortuna inimaginável que lá ganhei mais depressa do que estoiram o fogo de artificio na Madeira, no fim de ano, mas foram bons anos.
Agora?.. agora sou estudante universitária e a pergunta que se faz é - Mas onde é que foi que eu me perdi?

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