quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

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Sou pessimista por natureza, digo sempre "realista" mas é apenas para amenizar o que sou mesmo, que é pessimista. Acredito sempre que se contar com o pior será sempre mais fácil lidar com o melhor, que se fizer a conjuntura a partir do princípio que o pior cenário acontece será mais fácil gerir objetivos, metas e, inclusive, expectativas.
Não sou de criar ilusões, nunca me deram nada de forma fácil, os meus pais não têm uma empresa que eu possa tranquilamente gerir, não sonho com o euromilhões porque sei que se não trabalhar dificilmente conseguirei ter aquilo que pretendo e até que, por muito que trabalhe, talvez nunca o venha a ter. Sou a primeira a ponderar as dificuldades em todas as situações, o que pode correr mal, o que há risco de poder comprometer os planos e o que temos que estar cientes, o que às vezes é entendido como "nunca concordar com nada". Não se prende com concordar ou não, prende-se em levantar os pontos críticos para, caso aconteçam, já nos conseguirmos ajustar melhor, uma vez que já foi um cenário equacionado. Jamais correria um risco que colocasse em causa o que considero melhor para mim.
Tudo isto corre bem quando há um outro lado que nos equilibra. O yin do nosso yang. Aquela metade branca que nos equilibra dentro do nosso cenário escuro, que nos questiona "e se correr bem?".
Contudo, quando há duas pessoas a questionar "e se correr mal?" ai amigos, fica difícil.

Apesar de ser pessimista não sou catastrofista. Sei que tenho que ponderar o bom e o mau, ter em conta como o mau me pode afetar, mas seguir a minha vida e não ficar presa a cenários que ainda nem sequer aconteceram.
O meu namorado fala-me sempre "vês, como não temos estabilidade" só porque 3 pessoas na empresa dele foram retirados daquele projeto, apesar de permanecerem na empresa. Para além de pessimista, também costumo ser coerente. Eu sei que não há empregos para a vida. Nem a geração antes de mim teve, não estou à espera de eu ter. O meu pai trabalhou em várias empresas diferentes e foi despedido aos 60 anos, a faltar 6 para a reforma, e sem ter qualquer hipótese de voltar a trabalhar. Instabilidade vai haver sempre. Talvez aos 66 aí se consiga ter essa estabilidade, aquele cheque no fim do mês garantido, no metter what, isto a termos sorte. Agora não posso é definir ou planear a minha vida só a partir do momento em que tiver estabilidade, porque nunca vai ser o momento ideal. Já passei por 3 empresas diferentes e entendo que o meu futuro também não será nesta atual. A vida é assim, não posso é ficar condicionada e paralisada pelo medo porque se todo o pior acontecer, se perder o emprego, ainda sei servir às mesas, se vou 1 vez jantar fora por mês deixo de ir, se vou viajar 2 vezes por ano deixo de ir. Se não tiver um BMW como os vizinhos do lado também não será isso que me deixará menos feliz. Adapto-me, ajusto-me. 

Darwin diz que o ser vivo que mais tem capacidade de resistir é aquele que melhor tem capacidade de se adaptar. Não é o mais forte que resite, é o que melhor se adapta.
O cenário que aterroriza o meu namorado é não ter estabilidade no trabalho, levante a mão que a tem. "Preciso de ter mais estabilidade, pelo menos um pouco mais" O que é estabilidade nos dias de hoje e o que significa "pelo menos um pouco mais". Nunca estámos estáveis o suficiente, o meu pai foi despedido com 20 anos de empresa, se calhar aos 15 ele achou que tinha "um pouco mais" de estabilidade e não significou que 5 anos depois não fosse despedido. Se os meus pais tivessem à espera das condições ideais provavelmente eu e o meu irmão não teríamos sequer nascido.

As contrariedades fazem parte, olhar o futuro e ser-se cauteloso é natural, mas ficar paralisado e aterrorizado com algo que não conseguimos controlar é frustrante para mim. Apesar de qualquer cenário terei que dar a volta por cima, vou ter que continuar a viver a ter que trabalhar para pagar as contas, fazer o que for preciso. O que ele não entende é que, na minha condição de pessimista, isto apenas me faz ainda mais descrente e muito menos animada com o futuro à minha frente.

2 comentários:

м disse...

Sou otimista por natureza, mas cautelosa. Acredito que tudo vai dar certo mas, pelo sim pelo não, vou-me precavendo para o que pode correr mal.
Acho que nunca iremos ter as condições perfeitas, ideias, para o que quer que seja. Não só porque é difícil mas também porque vamos sempre querer mais. Só vou comprar aquele carro quando ganhar x, depois de ganhar x vou querer ganhar y só para ter a certeza que posso e por aí adiante. Ou só posso ter filhos quando tiver o emprego estável. Isso nunca vai acontecer. Não há empregos para a vida, não há estabilidade que dure para sempre nem nunca vão existir as condições perfeitas porque nada é perfeito.

Acho que o que temos a fazer é focarmo-nos nos nossos objetivos, correr atrás deles e acreditar. Ter fé, ter esperança que tudo vai correr bem. Que as coisas podem correr mal mas tudo passa e há sempre forma de dar a volta. Se vivermos à espera da altura ideal, nunca vamos fazer nada na vida.

Eva Luna disse...

Concordo M! As condições perfeitas não existem... e não há estabilidade, mesmo que exista, que dure para sempre.

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