segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Talvez não me consiga explicar mas...


É só de mim ou vivemos numa era onde parece que toda a gente está a conquistar coisas o tempo todo e nós estamos parados a olhar o sucesso dos outros? É uma falsa crença, eu sei, muito motivada pela farsa que são as redes sociais e onde só mostramos o melhor de uma vida aparentemente espetacular. Eu percebo isso.

Contudo, também é verdade que temos toda a informação à mão de semear, que podemos rapidamente aprender de casa a fazer desde renda de bilros, a investimentos financeiros, a roupa, enfim, uma infinitude de projetos. Felizmente, e apesar de tudo isto que está a acontecer, ainda conseguimos manter os nossos trabalhos, mas sinto, mesmo assim, que não estou a fazer o dinheiro que devia, que podia rentabilizar melhor o tempo que tenho. Tenho aquela sensação constante que podia arranjar um novo projeto, algo que pudesse rentabilizar, conciliar com o que faço. Sinto que o tempo que tenho fora do trabalho (depois das 40h) que podia estar em empregar em algo que gostasse, só não sei em quê. Dá a sensação que os outros estão um passo à nossa frente, a comprar imóveis para rentabilizar, a criar projetos bem sucedidos de agricultura, a vender as mais pequenas coisas, enquanto sou uma espectadora de bancada e sei que isso poderá fazer a diferença no futuro, nas oportunidades que poderei ter, que poderei dar a um filho no futuro, não sei se me conseguirão entender.


O namorado de uma colega de trabalho, em conversa com ela, disse-lhe sobre mim o seguinte: "Mas que objetivos é que ela tem? Já viste o carro que ela conduz? Num discurso onde a menosprezava a ela e a mim por ser amiga dela, onde menosprezava as minhas ambições na vida e aquilo que eu tenho ou já consegui. Sim, o meu carro do dia-a-dia tem 20 anos e se ele acha que é mau, nem sabe a história a meio, porque se soubesse que nem sempre ele pega, que se desliga por vezes do nada e que um dos piscas nem funciona diria ainda pior. Não me afeta, quem me dera a mim que durasse mais 5 anos que ficava feliz da vida, serve lindamente para o objetivo que tem, levar-me ao trabalho e a casa. 20 minutos por dia e está óptimo. Não tenho grandes pretenções de aparentar um status, um nível de vida incrível. Não preciso de coisas incríveis, gosto de coisas boas, mas isso não tolda o meu foco e definitivamente não faço uma vida acima das minhas possibilidades. Tenho os pés muito bem assentes na terra, preciso dessa firmeza e dessa estabilidade. No entanto, de facto, sinto que podia fazer mais, que tenho a energia e ainda algum tempo que me permitiria aplicar num projeto, em algo que mesmo que simples pudesse transformar num pequeno negócio, sinto que procuro isso há anos e não consigo encontrar. Há inúmeros exemplos de histórias de pessoas que descobrem as paixões nas pequenas coisas, em trabalhos manuais, na cozinha, na construção e eu aqui a com a sensação de meio gás, de estar a olhar para o lado, entendem?

Enfim, é estranho e é confuso.

4 comentários:

Emma disse...

Percebo-te. Agora tenho imenso tempo livre e embora não tenha o sonho de criar um negócio percebo que não tenho hobbies. Não tenho nada que me ocupe o tempo livre e parece que fico a ver os dias passar. É frustrante mas às vezes só precisamos de ir tentando. Se tens vontade procura algum curso online que te permita aprender agora ou melhorar algo que já gostas.
Já o namorado da tua amiga é um idiota. Deve ser daqueles que vive para as aparências e quando a crise toca a porta lá se vai o carrinho chique ou outras coisas caras e desnecessárias mas que ele compra para os outros verem. A opinião dessas pessoas não interessa nem nunca vai interessar a ninguém.

Eva Luna disse...

Emma, incrível como descreveste bem o indivíduo sem sequer o conheceres, sim vive às custas da namorada... vive das aparências, se o vires tem um bom carro, bons relógios, sempre com uma boa camisa, mas não tem dinheiro para lhe pôr gasóleo ou pagar o seguro :/ Está cheio de dívidas mas não vende o carro (que ainda está a pagar) porque diz que não ia chegar ao trabalho de opel... Sem comentários :s

Raven disse...

Não acho que seja estranho nem confuso. Acho e acredito mesmo que a maioria de nós se sinta assim. Porque somos mais os comuns e perdidos que os excepcionais que já sabem para onde vão. Eu apercebi-me disso durante a primeira vaga do Estado de Emergencia, em que me vi em casa em teletrabalho (a maioria das vezes SEM trabalho) e sem saber o que fazer com o tempo. Passei pela depressão, angustia, medo, choro. Depois pensei "Calma. Isto é uma oportunidade". Criei rotinas que sobretudo me faziam olhar para dentro e me obrigavam a falar comigo. Porque também a maioria das pessoas ( e perdoa se sou injusta, mas pareceu-me ser o teu caso) procura respostas fora. Nos outros. Quando elas estão em nós. E vão aparecer se falarmos connosco, não com a tua colega de trabalho. Como fazer isso? Silêncio, isolar-nos. No meu caso esforcei-me na Meditação (digo esforço porque penso muito e é-me bem dificil desconectar). Circulos femininos (a melhor descoberta do século!). Retiros. Aprendi a ouvir-me. E fui aflorando interesses. Dando-lhes espaço. Posso-te dizer que ainda não agi, ainda estou no campo do planejamento mas... já sei de um negócio próprio que quero ter e estou a estudar sobre isso. E acredita que NUNCA na vida tinha sequer pensado ser proprietaria, inovadora, dona do que fosse. Estou a pensar comprar casa (ideia inédita em mim) e tenho quase 32... É o que é! Confia em ti e ouve-te. As respostas virão. Respostas TUAS para TI. Não importa que os outros achem que não fazem sentido.

Eva Luna disse...

São tempos difíceis estes, desafiantes e assustadoras :( mas podem ser uma oportunidade de nos reiventarmos. Força para esses projetos!

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