terça-feira, 19 de março de 2024

Mais um dia e cá estou eu no meio de dois fanfos a dormir.

Nem sempre temos a feliz certeza de perceber "está tudo certo, é por aqui o caminho". Eu sei que é por aqui o caminho.

Não quero apressar o futuro, mas olho com expectativa para o dia em que saiba o quanto gostamos dele, o quanto queremos brincar e vê-lo crescer, espero também tentar que não perceba que o medo que nasceu de mim, naquele dia, junto com ele.

Sei agora que nunca mais serei inteira, andará um pedaço de mim aí pelo mundo e isso é assustador, pensar que não seremos mais uma unidade (porque sinto que ainda somos quando ele está no meu colo), que terei que o partilhar com o mundo, confiar nas mil escolhas aleatórias, frágeis acasos de sorte, que o destino guarda para nós todos os dias.

Gostava de ensiná-lo a ser forte, mas que também faz bem chorar e que não é preciso ser-se forte o tempo todo. Ensinar que ser forte não significa ser-se indiferente. Ensiná-lo a fazer o bem, a esperar o melhor dos outros. Ensiná-lo que há sempre um caminho, que coisas acontecem e que o amor nos ampara.

Há, pela primeira vez, o medo real de morrer, porque os pais são sempre decisivos na vida dos filhos.

Há também muito poucas coisas em que se consiga ter um efetivo controlo nesta vida. Ter um pai determinado a providenciar, a fazer tudo por nós foi uma sorte que eu tive, que me aconteceu. Ter escolhido um bom pai do meu filho não foi sorte ou acaso, sei terminantemente que sou demasiado racional para o fazer com quem não achasse que seria um pai extraordinário.

É um pai presente, paciente, cuidador. É também ele um pai bebé, uma vez que é pai há 3 meses. É alguém que nasceu para ser pai, sei que o encorajará e dará o espaço para que ele avance sozinho, mas com a certeza que se olhar para o lado sabe que tem sempre alguém a quem dar a mão.

Quando nasce um bebé e nos trocam o nome por "pai de... Mãe de.. " isso só acontece porque esse é dos papéis mais importantes com que nos depararemos e faz sentido honrarmos esse desafio a que nos propusemos.

Feliz dia do pai,

Ao dia que também dá um aperto gigante a quem já não tem o pai por perto, a quem quer ser pai e não consegue. Perto ou longe, na terra ou nas estrelas importa lembrar o amor, porque é esse que fica, esse é que nos molda, nos alimenta nos dias bons e menos bons.

Feliz dia filho, porque se Deus der tempo saberás o que é amor, um amor que não acaba, saberás o aperto desconfortável de mil abraços, do calor de mil beijos, do aconchego no cobertor de milhares de noites.

2 comentários:

Cynthia disse...

Como mãe de um adolescente com depressão e uma filha pequena neurodivergente, como percebo esse medo avassalador. Acho que vai connosco para toda a vida...

Eva Luna disse...

Não consigo imaginar 😔 deve ficar tatuado no corpo, na alma. Força!

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