sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

[Sobre a eutanásia]

Eu não devo ter o poder de decisão sobre a vida de outra pessoa que está em sofrimento. A minha liberdade acaba quando começa a do outro e a minha opinião também termina quando eu desconheço o tamanho do sofrimento dessa pessoa. A eutanásia ou suicídio assistido deve ser uma alternativa para todos os que querem morrer dignamente.
Uma senhora, uma velhota católica, dizia em reportagem de rua que temos que respeitar os desígnios de Deus e que ela vai viver até morrer e será sempre com dignidade, seja de que forma for. O problema é ninguém sabe o dia de amanhã e espero que aquela senhora nunca se veja numa condição em que afinal viver não esteja a ser assim tão digno. E que nessa altura outros decidam que ela vai ter que continuar naquela situação sem poder escolher por fim ao sofrimento.
É importante pôr fim ao turismo do suicídio, que até para morrer dignamente, mas longe de casa, é preciso ter muito dinheiro. A vida é um direito em si próprio mas a morte, sobretudo em situações tão delicadas, também deve ser.
É um passo histórico e espero que não seja vetado, que não seja entendido como inconstitucional.
A vida é um direito inviolável mas quão trucidada está a ser a vida quando se está dependente, quando se sofre as dores que a morfina já não apazigua.
Não podemos achar que temos o direito de decidir sobre a vida do outro, que vamos achar sempre digna a vida seja em que circunstância for, mesmo quando se é alimentado por sonda, quando dependemos de outros para as coisas mais básicas, quando as dores das escaras são a primeira coisa que se sente ao acordar e a última que se sente antes de ir dormir. Viver é mais do que isso, deixemos as pessoas viverem em paz, mas também elas morrerem em paz.

3 comentários:

MMP disse...

O que escrevi ontem:
"Hoje vota-se no Parlamento os projetos-lei para despenalizar e regular a morte medicamente assistida em Portugal.

Existem vários pontos comum em todos os projetos:

- Os médicos podem recusar-se a praticar a morte assistida;

- Os doentes tem que estar na posse de todas as faculdades cognitivas;

- Os doentes devem expressar esta vontade mais que uma vez, ou seja não é pedir uma vez para morrer e já está!
- Tem que estar em sofrimento profundo, lesão definitiva ou doença incurável e fatal;
- São necessários vários pareceres médicos, incluindo especialistas na doença de que a pessoa sofre.
- Preve-se criação de comissões para analisar e controlar estes processos.
Portanto a condição de saúde do doente é avaliada e confirmada por vários médicos, o doente tem que reiterar várias vezes a sua vontade e caso fique inconsciente o processo é interrompido.
Não é pedir para morrer e nos momentos seguintes é-lhe dada a medicação.
Acima de tudo é uma questão de respeito e de liberdade por quem se encontra em situação muito débil. É permitir à Pessoa uma escolha!
Se ganhar o contra, ninguém poderá escolher, caso contrário todos seremos livres de escolher de acordo com a nossa consciência."

100000% de acordo.

Eva Luna disse...

Um primo meu, que está no internato médico, faz a propaganda oposta… muito provavelmente baseado no lema "o médico deve ajudar a viver e não a morrer", a questão é que estas pessoas já não vivem à muito tempo…

Cynthia disse...

Subscrevo. TUDO. Sempre fui a favor da eutanásia. Cagando para se os outros acham que ninguém deve "suicidar-se"... é uma escolha de cada um! Por todos os motivos que enumeraste...

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