Às vezes recordo, com saudade, os doces e sadios anos em que trabalhei como empregada de mesa. Ahhh. Os copos que se partiam. Os velhos que se babavam e que me convidavam para dançar. Os tipos altos de olhos verdes, castanhos e, por vezes, azuis, que solicitavam sempre os meus serviços com a finalidade de saberem o meu número de telemóvel. Adorava quando me pediam indicações para regressarem a casa: "
Menina se eu for por aquela estrada, da primeira saída da rotunda, acha que vou ter à auto-estrada que vai dar a Rio Tinto?" ao que eu respondia: "
Sim, claro." Não sabendo minimamente se estava a mandar os senhores para o Porto, ou para Cuba, no Alentejo.
O que eu não gostava de ver um casal de noivos e pensar: "Humm.. Ele deve ser milionário" ou "Que vestido de noiva tão lindo, ainda por cima pode usá-lo mais do que uma vez, no casamento e no carnaval" ou "Minha cara senhora, todos percebem que já tem mais de 40 anos e não é porque se vestir como se tivesse 16 que isso vai mudar". Adorava quando estava a receber e orientar as pessoas e me perguntavam do nada se eu era comprometida ou casada, quando possivelmente ainda mal tinha passado o limite mínimo legal para poder trabalhar. Era lindo.
O acesso ilimitado a croquetes e chamuças. Ahhhh! As milhares de vezes em que tinha que explicar: " Sabe que eu trabalho aqui, sou empregada, não posso dançar com o senhor.."
Ah, a saudade do cabelo a cheirar a gambas salteadas, ou a rolinhos de salsicha. Ou de mega jantares só de mulheres, que vinham de sítios inimagináveis do pais só para jantar longe dos seus cônjuges. Jantares absolutamente normais tirando o facto que havia mais réplicas de órgãos sexuais masculinos, de borracha, do que talheres. Tudo mais de 40, mães de família, aquelas empregadas mal encaradas das Finanças e executivas que nos tratam do IRS, que ostentavam orgulhosamente os seus brinquedos, brincando como se fossem umas prevaricadoras altamente marotas e rebeldes. Aiiih, enfim, bons tempos.
É verdade que estoirei a fortuna inimaginável (not!) que lá ganhei mais depressa do que estoiram o fogo de artificio na Madeira, no fim de ano, mas pormenores, não é verdade? Pormenores...