segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Oh well...


Este ano já dava indícios que ia ser uma #5$r#$ desde muito cedo.

Comecei o ano, dia 1, no mar a molhar os pés, num pseudo ritual de renovação e recomeço. Escrevi 2020 na areia molhada, pedi desejos e força, tudo muito filosófico. No dia 2 fiquei bastante constipada em consequência disto...

Depois disso o meu carro avariou, o aquecedor avariou, a tv avariou, tudo avariou. Nós próprios íamos avariando durante este ano. Comecei o ano em choros porque percebi que a igreja/catedral/convento em que fiz todos os planos para casar entrou em obras e não ia ser possível casar lá. Depois, meses mais tarde, percebi que nem lá, nem cá, nem em lado nenhum, assim basicamente. Comecei a valorizar a lágrima e a poupá-la para tempos efetivos de necessidade. 

Virei mãe dos meus pais. Passei a ligar todos os dias, uns a pedir... outros a gritar... "fiquem em casa", "tu não me iiiinerves, não vais nada para o café", "vais comprar pão mas depois quero-te em casa!!" enfim dei por mim a dizer-lhes frases que eles nunca me disseram, mas que se dizem facilmente a um filho.

Não treinei. Aumentei de peso e levei com olhares de medo quando fiz uma prova do meu vestido. "O ideal era que perdesse peso... isto não está a fechar..." Who cares? Não vou começar a fazer dieta ou a ter um estilo de vida saudável assim já já, quando ainda falta tanto tempo, certo? Vou deixar lá para quando faltar 3 meses... coisa que pode este andar tanto pode ser lá para julho ou em 2027.

Percebi que tele-trabalho não é para mim e nunca pareci tão sem abrigo do que no tempo em que estive em casa. O tempo voa, não rende, mistura-se com os trabalhos da casa, enfim, uma confusão. O conceito de falhar em casa ou no trabalho é tolerável quando acontecem um de cada vez, sentir isso em simultâneo é demasiado para mim.

Está-se-me a abater a crise dos 30. Os 30 estão aí ao virar da esquina, mesmo alí e estou a sentir a nostalgia da coisa. Percebo nos pequenos detalhes, quando passa uma música da rádio e vou logo aumentar o volume e imediatamente percebo que tenho que o baixar. O meu cérebro já não permite e soa um alarme, que me demove logo da minha expectativa de volume adequado para curtir a música. Percebi quando comprei uns bolinhos na pastelaria que o conceito de "demasiado doce" já existe nesta idade, coisa até então desconhecida e que prendas como meias quentinhas afinal são bem fixes. Todo um mundo novo. 

Por fim, e em relação à pandemia no outro dia vi um negacionista na tv a dizer "que isto é tudo uma fraude, que está farto disto e que por ele podía-se acabar já com isto". Ora eu sou da mesma opinião, por mim também se acabava já com isto. Pronto, já está? Ah, realmente o indivíduo tinha razão, foi muito simples... Não sei como ninguém ainda não se tinha lembrado de acabar com isto imediatamente. Adiante, se houvesse uma vacina para mim eu ia já tomá-la. Despachava já isso, era já.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

O que é que foi isto?

O que é que foi isto e porquê é que nos odeias? É tudo o que devíamos perguntar a 2020.

Este ano está a ser um desafio à economia, à saúde e à sanidade mental de todos nós. É até seria mais fácil colocar as coisas nestes moldes, culpando o ano com a expectativa de ser isto mesmo e de o próximo já ser melhor. Ninguém sabe se será mas todos queríamos ter uma data para nos agarrarmos, mas isso não existe.

Temo que o natal e a passagem de ano propiciem uma explosão de casos, que possamos colocar quem gostamos em risco, de nós próprios nos colocarmos à mercê da sorte. Seria provavelmente mais fácil se fossemos culturalmente uma sociedade mais fria, mas está-nos no sangue a proximidade, o convívio, a família. É só um Natal, não é assim tão complicado mantermos o afastamento, então qual a razão de nos sentirmos sistematicamente atraídos pela ideia de nos juntarmos, mesmo com medidas pensadas para tentar reduzir o risco.

Dou por mim tentada a ir a casa no Natal, sou só eu a ir, mas mesmo assim penso no risco que lhes posso causar. Eu sei que é algo que pode acontecer no dia-a-dia mas a tranquilidade de saber que não fui eu que causei nenhum dano de maior é algo que não terá preço, mesmo assim cá estou eu com ideias nonsense de ir a casa.


É um absoluto contra-senso, se todos pensarem como eu, como provavelmente vão pensar: “ah, somos só 3”. Tenho receio que três, quatro, cinco pessoas neste natal possam ser demasiadas e que Janeiro estejamos a pagar a fatura de termos esta necessidade de estarmos presentes, de não deixarmos a família “sozinha”. Esta dualidade entre sermos quem lhes pode prestar assistência, romper um pouco a solidão com a sensação de sermos igualmente a ameaça e podermos provocar uma doença, sequelas ou morte em quem nos é mais importante ou a nós próprios é absolutamente surreal.


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