Eu não devo ter o poder de decisão sobre a vida de outra pessoa que está em sofrimento. A minha liberdade acaba quando começa a do outro e a minha opinião também termina quando eu desconheço o tamanho do sofrimento dessa pessoa. A eutanásia ou suicídio assistido deve ser uma alternativa para todos os que querem morrer dignamente.
Uma senhora, uma velhota católica, dizia em reportagem de rua que temos que respeitar os desígnios de Deus e que ela vai viver até morrer e será sempre com dignidade, seja de que forma for. O problema é ninguém sabe o dia de amanhã e espero que aquela senhora nunca se veja numa condição em que afinal viver não esteja a ser assim tão digno. E que nessa altura outros decidam que ela vai ter que continuar naquela situação sem poder escolher por fim ao sofrimento.
É importante pôr fim ao turismo do suicídio, que até para morrer dignamente, mas longe de casa, é preciso ter muito dinheiro. A vida é um direito em si próprio mas a morte, sobretudo em situações tão delicadas, também deve ser.
É um passo histórico e espero que não seja vetado, que não seja entendido como inconstitucional.
A vida é um direito inviolável mas quão trucidada está a ser a vida quando se está dependente, quando se sofre as dores que a morfina já não apazigua.
Não podemos achar que temos o direito de decidir sobre a vida do outro, que vamos achar sempre digna a vida seja em que circunstância for, mesmo quando se é alimentado por sonda, quando dependemos de outros para as coisas mais básicas, quando as dores das escaras são a primeira coisa que se sente ao acordar e a última que se sente antes de ir dormir. Viver é mais do que isso, deixemos as pessoas viverem em paz, mas também elas morrerem em paz.