terça-feira, 12 de outubro de 2021

Baby fever


Já vos deve ter acontecido aquela fase em que para onde quer que olhem há bebés a nascer, em vias de nascer ou em estudos de viabilidade, everywhere.

Pronto, acho que é seguro dizer que chegamos a essa fase. Não sentem que há um efeito tipo virose? Do género num minuto estás bem e no seguinte já viste o bebé do teu amigo e já estás a incubar o bichinho ou já estás com a febre. Sinto que em grupos de amigos ou amigas, bebés com mais ou menos o mesmo tempo não é bem coincidência, mas sim o resultado da baby fever.

Passas de "não está nos planos" a "ora, eu moro num t1, com um bebé teria que..." em 1,7 milésimos de segundo.

Sinto que, nesta situação, há sempre dois medos antagónicos sempre presentes: O de engravidar e o de não engravidar.

Morre-se de medo de acontecer uma gravidez com a pessoa errada, no timing errado, sem estarem criadas as condições (que entendemos mínimas, pelo menos), ao medo terrível da infertilidade. Passamos tanto tempo a gerir a situação, para que nada aconteça, que depois o medo é o exato oposto, de que quando se quiseres aí o destino já tenha outros planos para ti.

Ainda não tenho o relógio a dar horas. Nunca fui precoce em nada, sempre cresci com tempo, fui fazendo sempre as coisas depois do tempo, nunca antes do tempo e agora chega aquele impasse em que já me devia sentir, pelo menos, preparada, mas não sinto. Claro que o facto de haver crianças a brotar por todo o lado, das pessoas que nos são mais próximas, traz o assunto acima da mesa.

Contudo, claro que este adiar ao máximo vem com um risco biológico de quando quiseres as coisas já sejam ligeiramente mais difíceis. Às vezes só percebemos que queremos, quando não conseguimos e isso é aterrador. Ser necessário alguém te dizer "não podes", para aí cair a ficha.

Trazer uma criança ao mundo é um ato de coragem, de altruísmo, deixas de pensar em ti e passas a viver muito em função daquele ser, deixas de pensar no teu conforto, no teu bem-estar, no que tu queres, a tua gestão financeira vai para o teto, a tua vida muda, necessariamente. É um desafio e um equilíbrio daqueles a vários níveis.

Com a minha tiróide neste estado a médica só me pediu uma coisa: não engravidar nos próximos tempos. Se fizer tratamento com iodo radioativo estamos a falar de, pelo menos, no próximo ano e meio. Também não estava nos planos, seja como for, mas lá está, nós gostamos de achar que estamos no controlo da situação, contudo estas situações acontecem e não há que stressar, se não há nada que possamos fazer.

O marido que é um medricas para tomar decisões agora fala nisso com aparente tranquilidade, tudo parece simples e prático, mas se acontecesse ia andar a bater com a cabeça nas paredes durante uns dias.

Sabem aquela lava a descer o vulcão? O tema bebés é mais ou menos assim, sabes que está lá, que se está a aproximar, apesar de ainda o estamos a ver ao longe, mas que não dá para ignorar e um dia vai te atingir (seja a fertilidade, seja a infertilidade, ou quaisquer escolhas que façamos e vamos ter que lidar com isso).


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