Sinto que a primeira fase da vida é sobre nós, ficamos autocentrados e o que importa é o nosso umbigo. Nada é mais importante, nem sempre damos o devido mérito aos nossos pais, à nossa família, muitas vezes até tornamos a sua difícil tarefa ainda mais extenuante e nem nos apercebemos. O que importa é o que queremos, e que tem que ser tudo para ontem, os dramas dos amores correspondidos e não correspondidos, enfim. Tudo sobre nós assume absoluta importância, se encaixamos ou não no que a sociedade espera de nós, se nos misturamos com os nossos pares, se somos aceites.
Depois vem a segunda parte da vida, onde percebemos que há coisas maiores que nós, que olhamos para trás com um olhar muito mais claro e desembaciado, onde reconhecemos mesmo as coisas mais simples. Onde já importa mais ter paz, do que ter razão. Aos poucos já não é sobre nós, é sobre manter laços saudáveis, sobre os projetos que fizemos e que assumem mais importância, é sobre nós "podermos esperar", as prioridades são a casa, os filhos, manter o emprego.
É um equilíbrio difícil. Eu o marido temos falado sobre esse tipo de desafios. É-nos pedidos que sejamos empregados motivados, empreendedores a part-time, pais dedicados, maridos e mulheres presentes, filhos atentos, contabilistas organizados numa vida cheia de surpresas inesperadas.
Passamos a ter vários papeis e precisamos de fazer um exercício de malabares, para manter equilíbrio.
Apesar de em poucos anos passarmos para o fim da pirâmide de Marshall, acho que importa olharmos para nós, trazermo-nos de volta, percebermos que antes de tudo isso, nós também somos importantes e que só temos estas fichas para gastar numa viagem, que não dá direito a repetição. Colocamos demasiado peso sobre nós (eu pelo menos) e nem sempre é necessário, torna a viagem mais difícil.
Por isso, é realmente importante aproveitar a viagem. Celebrarmos as conquistas, as pequenas vitórias, estender a manta e sentar, respirar fundo, dar graças e recentrar.